segunda-feira, 10 de dezembro de 2007


Gestos perfeitos acontecem no silêncio. A melodia da ternura preenche todos os hiatos que as palavras desperdiçam. As palavras que são ditas ou que ficam por dizer, as palavras que nascem já feitas de morrer…

Não há mais que nada em tudo o que é nada mais que tudo. Assim é-se maior, é-se ardente e escrevem-se as páginas alvas do livro da intimidade.

A roda que gira, que vai, que avança em seu movimento perpétuo, jamais se cansa. Sente-se o excesso vibrante dos sentimentos nas partículas de vida. Suave e intensa acontece esta hora arrastada pelos princípios do prazer. O silêncio é uma tentação, nele é-se inteiramente humano a respirar o músculo da vida, força colossal de existir. Somos sangue fervilhante escondidos na candura de um olhar.

Silêncio! É tempo de viver!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Intermezzo



Tenho que apanhar o tempo

Na estrada que desponta.

Meus passos, ao destempo,

São a vida que não conta.


E os sons que me perfuram

Como pensamentos ansiosos

Cedem-me ecos que perduram

Além dos vazios desditosos.


Revejo-me pelo sábio costume

Dos usos feitos no vício de fuga

E o ardor da chama de meu lume

É o palco em que tudo se conjuga.


Sou náufrago arribado à areia

Da praia esboroada de meu ser,

Uma morada de casa cheia

Este meu modo de me entreter.

João Vasco

segunda-feira, 19 de novembro de 2007



Quando se é uma gota no oceano, um grão de areia no deserto, uma árvore na floresta, as palavras não ganham corpo, esvaecem como poeira à mercê do vento. Estes conceitos insepultos ficam latentes, à espera que um instante futuro os faça manifesto explícito da alma. Mas não há nada mais que isto quando a voz não é ouvida. Sem ouvintes entranha-se o silêncio. Quanto silêncio se suporta? Quando o silêncio é mais que interstício perde-se o ritmo da dança. Abraça-se o seio da distância, sorvendo em tragos soluçantes os caminhos da loucura. Tamanha força da sinfonia da solidão! O silêncio é a minha morte. Só assim se faz minha vida.

João Vasco

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Solilóquio



Menina que te atreves pelos campos

Mimosa por entre a urze e o riacho

Mirada pelo sol e os céus escampos

És a alma, sentimento e recacho.


Mulher que te emancipas pelos dias

Graciosa nas verbas do momento

Com teu olhar singelo tudo anedias

És a luz, o fogo e o invento.


Musa vagante pelo sabor do mar

Suave em teu ondeante desvelo

Teu canto é embalo a marulhar

És a brisa, frescor e concelo.


Estarei a dizê-lo assim tão baixinho

Como um sussurro envergonhado,

Este, por ti, desmedido carinho

Que não ouças ser-te declarado?


João Vasco

quinta-feira, 8 de novembro de 2007



Pus-me a pensar onde estava, no momento em que atravessei o tempo como quem se detém e o vê passar por nós, como quem segue numa carruagem de um comboio e ao olhar para o exterior, pela janela, receia que não seja o trem que esteja a andar mas sim as árvores que compõem a paisagem. Onde? Queria dar com o lugar em que tal aconteceu porque não me canso de insistir na morte do desconhecido. Foi esquecimento ou simplesmente não consegui situar-me espacialmente? Malditos desacertos… Como se eu fosse um boneco de corda incapaz de dar a si mesmo um impulso de vida. Sobeja o tempo, escasseia o espaço.

Vejo as ruas dos meus passos e os vultos que as preenchem como se fosse um estranho a absorver a paisagem e a dinâmica de um lugar novo. Perdi a noção do caminhante que fui. Onde me ficcionei, onde fui figura…O tempo é um comboio e só agora percebi que os seus melhores lugares são os que não ficam à janela. Da janela vê-se ficar para trás intimidade e estética do sentir. E afinal foi assim, toldado por este teatro emotivo, que me distraí sem perdão. Em suma, que me importa isso? Quase nada. Quase…Desvarios…E já nem sequer vou à janela.

João Vasco

segunda-feira, 5 de novembro de 2007


Pintura de René Magritte

Tenho imagens, tenho ideias. Guardadas em cada meandro meu que desconheço. E minhas acções ou omissões são um reflexo desse reservatório. Será tanto meu quanto o julgo? Para onde quer que vá, a mim sempre regresso. É longo o caminho fruto do esforço. E o destino? Preocupa-me mais o caminho, é por lá que acontece minha viagem atempada. Quero seguir a corrente que flui…Não me tenho presente pelo que me resta. Como tudo me acontece incerto e sem prazo não sou mais que a dúvida do tempo e do acontecimento insolúvel. As coisas que me fazem são só minhas. Eu sou minha solidão. Temo as certezas agrestes do que é ser quem sou. Não há desvios na paisagem do meu ser. Como sou-me percebido pelo tempo que se faz não há tempo em que me perceba. E assim não me julgo capaz de retirar de mim o caos do céu. Se a noite me fizesse um ponto de vida que se visse eu seria mais do que um fogo de aparecer. Se…

Chuva clandestina, torrente desordenada, alvoroço por culpa das ideias, das imagens, mero resultado de existir. É somente o único modo de se ser. Ou tão-só o meu, aquele que consigo conhecer.

João Vasco


Se os dias fossem para além da noite não haveria amanhã.

João Vasco

segunda-feira, 29 de outubro de 2007


Uma asfixia constante polvilha minha existência. Como se o firmamento se abatesse sobre mim com intenção de me esmagar. Não sou mais que memória. É atroz… Simplificado por acerba sentença busco sentido. Peças que se distribuam de forma adjacente de modo a poder ter uma perspectiva real da imagem que sucede. Isto é a violência de existir. Cadáver que sou, distraio-me a construir castelos de areia, enquanto aguardo pelo estridular dos dobres a anunciar o momento da retirada. Por cada castelo que rui, construo logo outro de seguida, na esperança parva de que o mais recente seja mais obstinado que o anterior.

Se eu pudesse mais do que querer e menos do que agir…Ser limpo, intenso e feito apenas de verdade. É tudo tão repetitivo e desgastante! Quem não se cansa?

Eu, que existo porque não me consigo esquecer de mim. Desde que me conheço que procuro um desvio, uma palavra, um som, um sorriso que me leve a um lugar diferente, fora disto tudo. Um local sem tempo ou espaço, em que me abandone e me esqueça. Onde? Por aí… Esse pouso que não é destino há quem o chame de amor…

João Vasco

domingo, 28 de outubro de 2007

Espiral



Quem pára tudo isto?

Que o tempo é além

Este trajo que eu visto

É a noite, o desdém.


Quando isto se acaba?

Este pulsar nevoento,

O retumbar na aldraba,

O rumorejar do vento.


Como fechar que existo?

Este cordel traiçoeiro

A enovelar-se, previsto,

Como hábil nevoeiro.


Hei-de deixar de ser eu

Começar do nada,

Deixar o que é meu

Sulcar uma estrada.


Tenho-me a mais,

Tamanho enfado, assim,

Como barco órfão de cais

Sou tão-só eu sobre mim.


João Vasco

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Flébil Monotonia


O frémito da ausência me perfaz

E sinto o erro como adivinha.

O céu vestido de lusco-fusco lilás

A saudar a noite que se avizinha.

Que é isto de ser-me assim

Um tédio já gasto de mim…


As bocas caladas dos anjos

Que não soltam as vozes de arrepio

Nos constantes desarranjos,

Neste interlúdio em que expio

As minhas faltas constantes

De meus modos distantes.


O mar tarda em se encapelar

E até parece menos majestoso,

Está tão triste seu nobre marulhar

Como no leito da morte o idoso

A pensar nos tempos de outrora

Na nostalgia da última hora.


Ai quem me dera poder mudar

As cores de minhas cores revoltas,

As areias de meu pélago a pairar

E eu tonto sempre às voltas…

Mas retenho meus olhos sobre o mar

E só vejo as ondas a rebentar, a rebentar…


Que é isto de ser-me assim

Um tédio já gasto de mim?



João Vasco

quinta-feira, 18 de outubro de 2007


Às vezes, Às vezes…. É todo um tempo que se vive. Essa curva do rio, esse balanço da estrada, essa voz da penumbra…Às vezes e as outras que não às vezes. Sempre, quase sempre, às vezes ou nunca. Tudo se mede pelas vezes que acontece. Um somatório de parcelas. Assim é a vida, essa uma única vez feita de tantas outras vezes.

João Vasco

segunda-feira, 15 de outubro de 2007



Há muito tempo que tenho medo de mim. Eu sou o desconhecido. Sou o outro lado do muro, o escuro fundo do mar, o seio da densa floresta, o que se esconde por detrás da porta. Olho-me no espelho e é confuso. Há algo naquela imagem que me escapa. É o estranho que eu visito. Sou a distância entre o que (penso que) sou e o que (julgo que) exibo. E não consigo deixar de pensar neste hiato cada vez que vejo minha imagem. Eu perante mim. Uma representação vazia de pensamento e da complexa tessitura que me compõe. É o jogo defensivo de existir.

Existo. Existo-me, exaurido, numa fuga desesperada ao vazio. Porque a vida é isso mesmo, uma tentativa desesperada de fugir ao vazio. E tenta-se. A dor é alimento. Porventura mais que o prazer. E dificilmente sei o que é esquecer. Não tenho pernas para as passadas do tempo. Muito há por dizer ainda que muito tenha sido dito. Resta-me falar sem palavras. Mas não consigo deixar de ter medo de minhas acções ou omissões. Ainda me restam muitos erros.

E há culpa nos gestos indisfarçáveis do meu ser. Pergunto-me frequentemente se há espaço para largar o que sou. Apetece-me parar, dizer não, desligar-me. Simplesmente suspender-me ou, em alternativa, alterar-me. Toda uma existência subjugado a um imperativo irremível. Mudar? Mero engano mental, ilusão passageira. Que relação tenho comigo? Que é isto de ser quem sou e sabê-lo pelo que sou? Ao questionar já o faço pelo meu modo de ser que me é inerente. Assim me tenho. Terei de gostar de mim para existir saudável? Gosto de mim? Pelas minhas acções me respondo. Conhecer-me é um processo já afectado por minha subjectividade. Eu a conhecer quem sou. Queria ter sido meu criador…e quem seria eu no acto de criação? É ambição a mais não me conformar com o facto de não ter sido iniciado comigo o processo de minha construção. Apesar disso, sou demasiado culpado do que sou. E isto pesa…mais do que o receio e a impotência face ao incontrolável. Por mais que me esforce não me abarco por completo. Terei sempre surpresas reservadas, sou o estranho em mim, a raiz do meu medo.

João Vasco

quarta-feira, 10 de outubro de 2007



Minha casa, meu lugar… No cimo de uma colina, altiva, isolada, onde moro sozinho. Feita nos dias de mim com a solidez do tempo, fiel abrigo de agruras. Eu não saio daqui. Um aconchego cobarde molesta minha vontade de explorar o que aparece na minha orla de existir. Prisioneiro de uma vontade insonte, sustenho-me em meu espaço. Escuto o som das palavras e o silêncio que as entrecorta como intervalo de vida. Há uma pausa ou um avanço no sentido indistinto das coisas. E assim se fazem os tempos que não se recuperam. É a minha doutrina, meu livro em branco.

Que é de mim? Onde me tenho? Quero-me assim, composto pela distância a que me sujeito. Porque tenho medo, um medo sacrílego de mim. Não sou previsível. Tenho-me seguro pelo refrigério que é minha casa. E espero. Por nada, apenas espero, como se mais nada pudesse fazer porque assim sou eu.

A minha casa…Ruiu minha casa. Onde morava sozinho. Agora tudo ficou mais claro com o fim da fantasia. Vejo até mais longe ainda que conheça o mesmo. Que hei-de fazer? Amainarei até ao torpor. Vou continuar à espera na quietude mansa de minha irredutibilidade. Conquanto que isto pareça muito, é miserável, porque tudo continuará na mesma, no mundo, lá fora. É urgente saber quem sou!

João Vasco

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Chuva Isolada



Na sombra do tempo me escondo

Na esperança de encontrar a lua, tresmalhada,

Despida do céu, gravada na chama do teu olhar

Como menina sem sua mãe, perdida.

E ouço os murmúrios cavos da distância

A relembrar-me o medo da saudade

Pelos trilhos feitos na incerteza,

Na acção continuada de mim,

Torturado pelo cunho do esquecimento.


(Onde estás que já nem te vejo a vida

Onde me tens guardado a morrer?)


Aos meus pés, no lugar dos meus passos,

Um passado dito por cinzas amontoadas

À espera de uma brisa que as faça livres

Que as disperse invisíveis como a memória

Para que tudo seja como tem que ser.


(Onde estás que já não te procuro

Onde me deixaste longe de mim?)


Estou no limbo, na minha fronteira do amor

No lugar onde as palavras se emudecem

E em que os silêncios são vociferados.

Aguardo por um tempo certo de agir,

Por um clamor sibilado de sentimento,

Por uma paisagem imarcescível de ti,

Por um fado sonhado na rua.


(Onde estás que tanto te quero bem

Onde levas contigo a Primavera?)


Esta frágua na manhã do meu acordar

Não se perde pelos sabores da tarde,

Despe-se de sua copa adstringente

Como um carvalho pelo Outono,

No descerrar de cada viagem nocturna

Quando me perco pelo sono.


(Onde estás tu sozinha a chorar

Que já sinto minha boca dorida de sal?)


E é assim deste modo carregado

Que me vou vendo a respirar,

Um pouco longe de minha presença,

Suspenso pelas pausas da ilusão

Enquanto cai tua chuva em mim

Meu pedaço de céu, nuvem distante.


João Vasco

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Não tenho mãos para agarrar, deixo fugir. Bem tento, mas falta-me algo para conseguir segurar o que quero. Não é vontade. São minhas mãos. Têm a medida certa para dar a liberdade. Porque as mãos querem-se leves como aves migradoras. Mas as minhas pesam-me.

É o peso da leveza.

João Vasco

quarta-feira, 26 de setembro de 2007


Sair. À rua. As ruas têm gente a mais para que não me sinta só. Na rua há cenário, a imensidão do tempo vazio. Parado, estranho-me. Debruço-me sobre demasiadas questões de mim. Sou o louco que revolve a serenidade da poeira. Mas mesmo este instinto selvagem enfrenta o limite que cerceia qualquer sede de rebuliço em busca de mais. Há uma álea infinita a asfixiar qualquer desejo de emancipação.

E quem são estas pessoas? Corpos. As pessoas não se conhecem. Eu não tenho corpo para minha alma. Olho para eles e percebo a distância. Que lonjura!

Aqui se faz a vida. Quero partilhar meu pensamento. Mas não por palavras ou gestos que adulterem a raiz das ideias. Um produto puro, uma partilha sentida como um pedaço verdadeiro de identidade, …assim seria conhecer e conhecerem-me. Seria…

Estou a meio caminho de nada. Volto para trás ou cumpro o que me resta? Estou na rua. Sinto o som do silêncio, a solidão. Onde me tenho, jazigo de instantes?

Apenas vim à rua para que pudesse ficar um pouco só.


João Vasco

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Enlevo


Se me vires assim atoleimado

Em gestos e desvarios de incerteza

É porque brotou em mim a pureza

Desse trago mansinho e folgado,

Esse tão rebuscado sabor

A que chamam decerto amor.


Se me achares um pouco distraído

Perdido pelos cirros invisíveis

É porque há matérias indizíveis

A sobejar em mim, pobre arguido,

Culpado por te amar tanto assim

Que até me faço esquecer de mim.


Se eu estiver parvo a olhar para ti

Suspenso em teu calmo revelar

É porque me sinto todo a parar

Nessa aragem em que te percebi

Tu, bela como não há mais

Ninfa áurea de meus recitais.


João Vasco

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A morada de mim



Por onde vou me perder

Se o que nunca se encontrou

Não tem fixo o lugar

De existir, de morar.

Por onde….

Existir é tão confuso

Quero dar-me uso…


Por entre as brumas do meu ser

Não encontro o que entender.

Vicissitudes em dispersão,

Reminiscências da acção,

Espaços de tempo desencontrados

Em simetrias desconexas,

Acontecimentos soterrados

E coisas vãs anexas.


Por onde então me procuro

Se me entendo a o fazer,

Há meu passeio obscuro

A imaginar-se a crescer.

Navego como nauta de mim

No abismo que se completa

Até à foz do rio sem fim

Minha utopia concreta.


Por onde ando eu

Um pouco aqui e ali

Entre o que tenho e o que é meu

Entre o que existo e o que morri.

Há outro modo de me achar

Livre do castigo do véu

Ser gigante como o mar

Ausente como o céu.


Em meu querer descrente sonho

E os dias já não acontecem.

Ai, se eu pudesse ser risonho

Pelas vontades que se tecem

Ter uma chama insubmissa

A acalentar-me cada movimento,

Moldando minha quididade omissa

Chegar-me ao que tanto tento.


Por onde ando eu…


João Vasco

terça-feira, 11 de setembro de 2007

As vozes que falam comigo nada dizem que me seja entendível. São ruídos de vida desenfreados pelos espaços redutores do tempo que acontece. Sons abafados pela distância que se cria entre o que alcanço e o que desejo. Ouço clamores férreos e sussurros plangentes.

Que dizem eles? São desassossego despido de palavras. Como se um bando de gaivotas grasnasse ao meu redor, à procura de nada, apenas com a vontade de soltar instintos implacáveis pelo facto de existirem. A continuidade desta melodia indecifrável faz-me cansado. Preferia a crueza do silêncio. Em que tudo sucede na quietude da previsibilidade. Será que irá parar este bulício? Onde estão as palavras? As vozes fugidias não são ditas mas eu as ouço. Sou apenas eu a falar comigo…


João Vasco

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Às vezes perco-me. De mim. De tudo. Ausento-me sem destino pelos caminhos invisíveis da incerteza. E atrevo-me pelas veredas sombrias que suponho. Supor. Sim, supor. Essa contingência. Porque eu só me suponho. Pelo que me suponho sendo. E as viagens que desencadeio pelo universo de mim são gestos ilusórios de liberdade. Não há mais que isto, uma sucessão de gestos irrepetíveis onde tudo é presumido. No embaraço da acção encontro-me com a dúvida iniludível. Porque há demasiadas quebras para que se entenda a vastidão do que acontece. Como me tenho evidente? Deixo-me suster, inerte, na convicção inquebrantável de que supor é existir. Assim suponho…


João Vasco

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Ermo

Porque absorvo o demais do mundo

Desde a fímbria ao mais esconso fundo

Pela esponja ensopada de vida

Em meu peito, bem escondida.


E não pára, nem sequer abranda,

Crueza tamanha que por mim ciranda.

Adstrito me fico por assim ter de ficar

Já quase não caibo neste meu lugar.


Alguém me leve este peso imoderado

Tanto mais de tenso e apertado.

Não consigo por mais me segurar

Cedo a meu taciturno alquebrar.


Tentei despojar-me deste carrego

Num gesto assoberbado de aferro

Por um ilusório e soluçado pranto

Soltei a voz de meu triste canto.


Mas de tão poucas gotas vertidas

Ainda que todas somadas e expandidas

Seriam sempre um pequeno gotejar

Inócuo perante meu encapelado mar.


Alguém que queira tomar um pouco

Por demais suplicarei até que fique rouco.

Quando minha voz se for sem ter sido ouvida

Já estarei a morrer mais rápido que minha vida.


João Vasco

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

As mãos. Pela tangibilidade a consciência da leveza. Um arroubo de sensibilidade à espreita. Pelo toque se percebe a eternidade. Um leve arrepio emerge, clandestino, e dá uma leve noção de presença. Tudo se evade pela ausência de querer. Já não se quer, já se tem. Somente fruição, cumplicidade. O tempo fica esquecido por entre os espaços vazios de sentido. Na fímbria do esquecimento há a complacência do sabor da vida. Nestes pequenos sítios não há equívocos ou mentiras. Não há traições ou medos. Não há sonhos ou descrenças. Saboreia-se a harmonia do silêncio. Como se não houvesse amanhã e não tivesse havido ontem. Não há, simplesmente. Questiona-se a existência ao se perder parte da acepção de consciência. Numa imaterialidade dominante, emergente em um gesto de ironia, pela sua antítese, a tangibilidade, se arriba à pureza do sentir. Pena a sua tão funesta brevidade. Mas como se perde a noção de tempo, enquanto dura é como se se tivesse evolado a noção de fim, uma paragem nas regras da existência, um desvio melódico pelo infinito incompreendido. Engano feliz!


João Vasco

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Sinto os dias como pingos de chuva a invadir meu corpo insolente. Tudo é feito nos dias. Um fragor mesquinho se deslinda. Não há hiatos ou fraquezas. Há uma continuidade pressurosa que não deixa espaço para o improviso. Queria um não-dia. Um nicho de além-mar, um desencanto de ousadia, um manto rutilante de incerteza, uma luz de inquietude, um sopro alvoraçado, uma voz de arrepio, …Algo inaudito. O ser humano é um ser interdito. Por si mesmo ou pela sua própria circunstância. E nisto tudo, à espreita, a felicidade. É tão-só amanhã. Hoje é somente o presente. A felicidade é apenas um conceito do futuro. Vem aí. Chegará. Trazida pelos dias. Esses intervalos de tempo de que somos cativos. A monotonia pela privação e pelo sentimento de impotência. Quero um não-dia…

João Vasco

domingo, 19 de agosto de 2007

Espaços de vida

Não esperes mais por mim

Já não saio daqui. Sou cobarde

E tenho-me assim absurdo. E é tarde

Pela sina do tempo, coisa ruim.

E como me vejo só mas esperado

Entardeço-me até que atrasado

De modo mais que perfeito

Me abandone à sombra que trago

Enclausurada em meu peito

Sob a forma de um afago.


Vai, vai-te sem demora

Que eu já não me vou. E depois

Corrobora que não tenho minha hora

Nos minutos de nós dois.

Como eu não querendo queria

Fazer o que então quereria

Por essa estrada perdida

Onde se espraia quem tem

Sua fé toda vencida,

Seu espaço tão além.


Agora que já te foste, segura,

Vive a vida como se ela fosse tua

Nessa farsa manifesta que perdura.

Eu sou o solitário na multidão da rua,

A presença tão ausente da vista,

Da obra o desconhecido artista.

Não, não voltes nunca mais

Que eu parei de me ser, de vez,

Numa queda abrupta de sinais

Desfiz-me da vasta agudez.


Oh, quão infrutífera minha fadiga!

Nada consigo apagar deste tormento,

Maldita úlcera qu´em mim se empertiga.

Gerada pela ferocidade do sentimento

É dardo acerado cravado em meu peito,

Suplício casado com laço imperfeito.

Sou um náufrago de lassa escuna

A aguardar por mim, pelo que sou

Não me existo, ando à tuna

Na noite que se me abeirou.


Adeus,

Despeço-me de mim, não de ti,

Porque me tenho cansaço

Se um dia voltares estarei aqui

Mas já serei de mim assaz escasso.

É-me indiferente se vais regressar

Aquele que te quer já se vê a expirar.

Se vieres ele já cá não estará

Será apenas lembrança do passado

E então nada mais te restará

Senão repousares a seu lado.


João Vasco

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Procuro no tempo que perdi o que não perdi nesse tempo. Aqueles espaços formados de mim que se alimentam da perda. Réstias singulares obradas na complexidade dos sentimentos. Desmesuradamente, amplio a importância de estes pequenos cacos da rude verdade. E assim tento equilibrar meu entendimento redescobrindo o efeito de minhas acções nas sombras esquecidas. Há demasiado de mim esparramado pelos desvios da dúvida. E não há perguntas para as respostas em que esbarro. E hesito perante os fragmentos esparsos que assomam à minha percepção. Sou uma construção feita em ritmo compassado através das preferências manifestadas perante os limites da realidade. Neste novelo inextricável não encontro o extravio de mim. Sou demasiado miscível pela estrada de mim…

João Vasco

Obrigatório

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Às vezes penso na mudança. Não naquela que pode ocorrer mas na que teria ocorrido e que acabou por não acontecer. A mudança supostamente possível. Aquela que tornaria o agora num mero talvez. Um pequeno gesto e tudo completamente alterado. Ou não. Até que ponto se pode garantir que eclodiria um efeito meramente provável pela acção de determinada causa? E como controlar a mudança hipotética, aquela que geramos apenas em nós e que depende de nossas assunções? Como perceber a mudança? Cada instante, cada pedaço de vida é passível de mudança. Não será a própria vida uma mudança, uma alternativa? Mudar é por vezes manter. Eu mantenho-me a mudar.

João Vasco

terça-feira, 7 de agosto de 2007

A música da indiferença

Ninguém fica por mim,

Até vem mas logo sai

Rasga-me assim e vai

Nesta indiferença sem fim.

Como isto dói em dor

Não sentida mas sofrida,

Pungente estertor

Na vida carcomida.

Grito de raiva, aperto,

Modo de ser presente,

Nódoa que tão se sente,

Crónico desacerto.

Será isto a solidão?

Será isto a tristeza?

Oh tamanha certeza

É o pesar de imensidão.

Quero dançar uma valsa

Alguém me dá a mão?

Ou então quem sobalça

O tango de meu coração?

Partilhar um momento

Tão nobre como dança

Essa bem-aventurança

Que foge enquanto tento…


João Vasco

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Morte a priori

Eu que já pensava sofismado no amor

E na história maviosa que se iniciava

Trazida assim pelo vento, com fulgor,

Enquanto o sol maior pestanejava.


Tu assim tão demais perfeita

E eu embevecido a suspirar, inocente,

Não te via já indecisa e contrafeita

Naquela verdade que se mente.


Agora perdi tudo o que restava

E aquela que em sonhos me amava

É uma lembrança da imaginação.


Só me resta pelos ditames da sorte

Estar já morto e aguardar a morte,

Eu, a sobejar, nestes dias de opressão.


João Vasco

segunda-feira, 30 de julho de 2007

A certeza da desgraça

Eu não sou ninguém.

Sou o dia que não vem,

A pedra que é lançada ao mar,

A gota de chuva que cai no oceano,

A lágrima que se deixou de chorar,

O dia que não cabe no ano,

A brisa amena que se perde nos rostos,

A crispada maré de desgostos,

O momento passado e não vivido,

O facto consumado e tão esquecido.

Ainda me lembro de mim?


João Vasco

terça-feira, 17 de julho de 2007

O tempo …esse eterno desengano. Esse meio indefinido, que não pára, que não cessa. Mestre da ilusão como que estraga e depois repara. Estraga e repara, estraga e repara, … Às vezes só estraga. Noutras só repara. Ou até nem sequer isso.

Quando espero parece que avanço. Quando avanço vejo-me parado. Quero isentar-me do tempo. Volitar por entre os espaços da distância e encontrar o que não procuro mas que descubro. E assim entender que me sou, ao que vou, pelo que tenho. Nada de novo, tudo igual, tudo tão na mesma. Porque eu não sei ser mais. Nem menos. Apenas isto, tal como é. A crua banalidade. Estranho-a. Sinto-me importunado pela sua presença pertinaz. Eu, que sou comum. São os efeitos do tempo, esse feiticeiro de vontades…

João Vasco

Obrigatório


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Quid pro quo

Será que me podes amar?

Só um pouco sobre mim

Nada daquelas coisas sem fim

Que eu tenho por ti a perdurar.

Uma pequena exalação,

Um arrepio do coração.

Tão-somente isso te peço,

Nada que seja colossal.

Um pedaço, um arremesso,

Uma viagem adicional.


Será que me podes amar?

Um desejo aplainado

Sobre mim debruçado,

Um constante marulhar.

Só uma coisa latente

Que não seja evidente.

Apenas isso, uma morada,

Um caminho, uma estrada

Um quadro inacabado

Pelo pincel de meu fado.


Será que me podes amar?


João Vasco

Obrigatório

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Dou tudo o que posso e não é nada. Assim parece. O que me sai sincero do peito é um vento insípido que pouco faz. Não alcanço. Choro o sangue turvo que percorre todo o meu corpo em lágrimas de ansiedade. Sou a sombra anuviada de um vulto que não sou eu. Os passos que dou são em direcção a mim. De mim não me vou. Não sei se aguardo ou se avanço. Sou. Apenas. Somente daqui. E isto me faz desesperar. Estou contido pela ausência que é não ter. Não me resolvo, não me antecipo. A meus pés desenho um abismo em que rodopio volúvel como cata-vento. Tudo o que faço não se vê feito. Desaparece. Não consigo tocar. Por vezes roçago. Tão-só isso. Estou longe, longe demais …eu que tanto queria ser indelével.

João Vasco

Obrigatório

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Anjo triste

Conheci um anjo. Olhar puro, sorriso melífluo e riso terno de criança. Como ele é bom! Fez-me voltar a acreditar na bondade. Mas suas asas foram cerceadas. Queria voar de novo. Ele agora não me pode valer. Está triste. Enquanto ele estiver assim suas asas não crescem. Tenho que o ajudar a ser feliz. Ele fez tanto por mim e nem sabe. Porque a indulgência é-lhe natural e tudo o que ele faz toca profundamente os demais. Preciso de o fazer rir. Mas como o hei-de fazer? Ele está profundamente triste. Eu também fico triste por vê-lo triste. Ele não me diz a razão da sua tristeza mas eu já sei qual é. Este anjo caiu do céu porque tem dado mais amor do que tem recebido. E o amor é como a respiração, tem que haver um equilíbrio entre o que se recebe e o que se expele porque senão vamos perdendo, lentamente, o amor que trazemos, até que fiquemos completamente taciturnos. Ele já está assim. Mas não por muito tempo porque afinal só tenho que o amar. E é tão simples amar…


João Vasco

Obrigatório

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Quando acordo, quem sou quando me encontro? Um pouco que não é o que sou. Um ente perdido no vazio sem identidade. E se esfuma este pequeno ser que irrompe na antecipação da consciência. É minha tábua rasa, meu eu oco de experiência, sem memória. Esse sou eu mesmo, porque o outro já me traz somente como fenómeno residual. Porque sou então tão pouco de mim?


João Vasco

Obrigatório

terça-feira, 19 de junho de 2007

Sentimento Derramado

De uma noite és o luar

De uma flor um canteiro

De um rio és o mar

És a beleza por inteiro.


De um olhar a paixão

De um beijo o amor

De um reencontro o perdão

És das emoções um louvor.


De um riso és a alegria

De um abraço o afecto

De um sorriso a empatia

És jovialidade em concreto.


De um verso um poema

De um meneio uma dança

De uma nota és um tema

És a chama que m´alcança.


De um suspiro o desejo

De um gemido o prazer

De um pássaro o adejo

És princesa de meu querer.


De uma brisa és a sageza

De um vento a liberdade

De um fado a tristeza

És a muita saudade…


Oh doce menina

A que uno minha mão

Se fosse pequenina

Esta minha paixão

Não pareceria pequeno

Meu enorme coração.


João Vasco

Obrigatório

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Ad Eternum

Eu que por existir tenho o meu fim

Trago não só o que acaba em mim,

Abarco um áureo sentimento infinito

O amor eterno que por ti permito.

E, no entrementes, quando eu me for,

Por entre as sombras do passado,

Meu pletórico sopro de amor

Se fará nimbo do céu estrelado.


João Vasco

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Obrigatório

Era eu ao longe. Era eu aqui. E qual dos dois era eu? Perguntei-me… não obtive resposta. A qual dos dois perguntei? Àquele que julgo ser eu ou a um outro meu eu? E quem me perguntou? Aquele que ainda sou eu ou um outro que se faz em mim? Quantos tenho em mim? E quantos ainda terei? Quantos tive? E o eu que sou agora se calhar já não sou eu… Eu, que afinal sou tantos de mim…


João Vasco

domingo, 10 de junho de 2007

Obrigatório

Procuro palavras. Em mim. Por mim. Sem mim. E o que encontro? Pouco amiúde o que procuro. Esforço-me o suficiente em minhas diligências ou me acobardo na indolência? E saberei eu avaliar sem necedade ou imperícia o que deve ser alvo de busca? Ou como deve ser perseguido tal desiderato? E se do ouro reluzente eu não veja sua cintilação e fique radiante perante a refulgência de pechisbeques? Toda a escolha é difícil. Há sempre o medo de errar perante a razoável probabilidade de tal acontecer. Como me isento de mim? Talvez só morrendo…ou nem sequer assim…E isto são apenas palavras, as tais que vieram até mim.

João Vasco

quarta-feira, 6 de junho de 2007

...

"Em ti está a cura desta chaga

Que me consome, infame.

Tal como me aflorou, em vaga,

Assim se vá e não mais me chame."

...

in "O Tempo das Coisas", João Vasco

Já não me lembro das últimas palavras que disse. Há quanto tempo isso foi? Muito? Pouco? Não tenho ideia. Pode ser um problema de memória ou uma crónica falta de atenção. A falta de atenção não é mais do que uma atenção descentrada da realidade objectiva (prodigalizada pelas percepções de nossos sentidos) e focada numa qualquer elucubração. Dualidade confusa. Em que me devo atentar? Porque o tempo não espera…E as palavras de cada instante já foram ditas ou ficaram por dizer. Poderão ainda vir a ser ditas, mas já serão outras ainda que as mesmas. E quais foram as que eu disse? São as mesmas de sempre, não tenho muito para dizer, não há muito para ser dito…

João Vasco

terça-feira, 5 de junho de 2007

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Lá fora tudo acontece em bruto. Aqui tudo emerge adulterado. Não sei se é a minha visão inquinada, fruto de pensamento turvo, que me faz ver as diferenças. E se eu perguntar a alguém? A quem? Não será ele um produto da minha ciência? Preciso que alguém me diga, sem que eu ouça, o que é a verdade. E se quem me ajudar também estiver a braços com um dilema? Serei eu sua âncora e ele meu anzol? Ou seremos os dois um pedaço de fio do mesmo novelo intrincado? E qual será o real comprimento desse fio emaranhado? Para mim já não tem comprimento que se meça. Dá demasiado trabalho mesurar o que não tem fim. Começa-se, a todo o vapor, para, à medida que o tempo avança, se ir diminuindo o ritmo, até que se desista por se acabar por se entender que não vale a pena, é inútil. E como se pode concluir a eternidade de algo que nem sequer sei se existe ou se apenas é conceito que em mim criei? Quanto há a mais em mim? Pareço distante de tudo…E só uma janela me separa do que há lá fora.


João Vasco

domingo, 3 de junho de 2007

sábado, 2 de junho de 2007

Tá Combinado


Então tá combinado, é quase nada

É tudo somente sexo e amizade.
Não tem nenhum engano nem mistério.
É tudo só brincadeira e verdade.
Podemos ver o mundo juntos,
Sermos dois e sermos muitos,
Nos sabermos sós sem estarmos sós.
Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós.
Então tá tudo dito e é tão bonito
E eu acredito num claro futuro
de música, ternura e aventura
Pro equilibrista em cima do muro.
Mas e se o amor pra nós chegar,
De nós, de algum lugar
Com todo o seu tenebroso esplendor?
Mas e se o amor já está,
se há muito tempo que chegou
E só nos enganou?
Então não fale nada, apague a estrada
Que seu caminhar já desenhou
Porque toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor...

Caetano Veloso

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Obrigatório

Teus lábios

Como eu sempre me lembro

De teus lábios inauditos

Amenos como tarde de Setembro

Joviais lugares infinitos.


Ah! Esse sabor adocicado

Com um travo assisado de acidez

Berço do amor e do pecado

Em que se esboroa minha lucidez.

Pudesse eu o tempo congelar

Para juntar teus lábios aos meus,

Num beijo para nunca acabar,

Em puro idílio dos céus.


In "O Tempo das Coisas" , João Vasco

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Cada instante, cada momento, um pedaço de nada. Fragmento esboroado pelo tempo. E nós somos feitos dessas minudências, os pormenores que nos fazem a intento. Isolados são desprezíveis. Em conjunto fazem o ser por inteiro. Aqui jaz um momento...

João Vasco

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Obrigatório

Solidão

Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo...
isto é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos
pela ausência de entes queridos que não podem
mais voltar...
isto é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente
se impõe às vezes, para realinhar os pensamentos...
isto é equilíbrio.

Tampouco é a pausa involuntária que o destino
nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a
nossa vida...
isto é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
isto é circunstância.

Solidão é muito mais que isto...

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão, pela nossa Alma!



Fátima Irene Pinto

terça-feira, 29 de maio de 2007

Aguaceiro

Foste meu aguaceiro

Me encharcaste de ti.

Te foste, por inteiro,

E nem sabes que morri.


João Vasco

"A originalidade é impossível. No máximo, podemos variar muito ligeiramente o passado, dar-lhe um novo matiz, uma nova entonação. Cada geração escreve o mesmo poema, conta o mesmo conto. Com uma pequena diferença: a voz."

Jorge Luís Borges

segunda-feira, 28 de maio de 2007

A minha imagem

Olhei para ti e não mais sosseguei

À sorrelfa invadiste meu inerme ser.

Em ti jamais consigo eu me ver,

Contido por ti não extravasei.

E continuas a reiterar o teu papel,

Chegas-te a mim num assombro cruel.

Disso eu até nem me queixo,

Mas eu nunca sequer me deixo...


João Vasco

Obrigatório

"As minhas acções só verdadeiramente as percebo quando as recordo"

in "O Tempo das Coisas" , João Vasco

sábado, 26 de maio de 2007

Não faço. Sonho com o que não existe. Transmuto-me e introduzo-me numa realidade irreal. Onde tudo o que é não é. Seria eventualmente se tivesse podido ser. E porque não o foi? Porque somente sonhei e senti-me a pensar-me como sentiria o que penso que haveria de sentir. E assim sou o fruto de meu pensamento, um rebento de minha imaginação.


João Vasco

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Obrigatório



Uma árvore, duas árvores, três árvores…de quantas preciso para ter uma floresta? A partir de que número se pode chamar a um conjunto de árvores uma floresta? Vinte? Trinta? Cinquenta? Cem? Mil? Onde jaz o limite? A partir de que fronteira se constrói uma noção? E quão mutável é essa noção? Uma floresta é o quê? Muitas árvores. E como sei eu o que são muitas árvores? Não sei, nem quero saber…Fico-me pela floresta.


João Vasco

quinta-feira, 24 de maio de 2007

...

"Há duas intrépidas vidas

Na florescência de meu ser

Uma, que me pejou de feridas

E outra, que nunca as chegou a ter."

...


in "O Tempo das Coisas" , João Vasco

...

"És tão linda

Que me comovo

Quando te olho, ainda,

Cada vez, de novo"

...


in “O Tempo das Coisas” , João Vasco

...

"Em mim não há surpresas

Conheço-me em demasia

O bem que me fazia

Ter-me segredos e não certezas."

...


in
"O Tempo das Coisas", João Vasco

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Livro já disponível: "O Tempo das Coisas"


O livro de poesia "O Tempo das Coisas" foi lançado no dia 18 de Maio no Blá Blá, em Matosinhos, aquando do aniversário da Corpos Editora. Para aquisição do mesmo podem fazê-lo através de:

www.fnac.pt
www.corposeditora.com

ou nas lojas da fnac ou da livraria almedina mediante encomenda.

ou contactem-me através de joaovfpinto@gmail.com