segunda-feira, 19 de maio de 2008

Chuva na janela


A chuva que bate no vidro da janela

A dizer que não, que não é agora

Como se houvesse uma certa hora

Para se pintar uma aguarela…

Tamanha falta de imaginação,

Dispendioso pensamento

Que se faz céu e pegajoso chão

Mar e tempo de invento.


A chuva que bate no vidro da janela

Em gestos cinzentos a pau de carvão

Traça esquissos sabor a canela,

Memórias pela palma da mão.

E a melodia da cor da tristeza

Em pintura sonora de solidão

É lançada nas calhas da incerteza

Pingo após pingo, sem conclusão.


A chuva que bate no vidro da janela

A acenar como quem chega desperto

Ou como quem vai por apertada viela

Na senda de si mesmo, já tão perto,

Mas que não chega mais que o vento,

Um toque piano de quem não existe,

Um ardor cruzado de sentimento,

Uma distância inteira que persiste.


João Vasco

sábado, 3 de maio de 2008

"Até onde a rua me levar" de Lara Pires

Luto como um louco para vencer tudo o que sinto como tua ausência. A tua distância é a luz apagada nesta minha casa rústica de palavras. Fecho os olhos e vejo teu sorriso vivaz a tactear, indolente, meu âmago. Recordo tua voz melíflua que me afaga, terna, como uma brisa amena de Primavera. Sem ti sou pobre, um mendigo andrajoso, um eremita errante, um náufrago da vida. Nas mãos carrego todos os carinhos que não te consegui entregar. Sou um prisioneiro de minha vontade, um súbdito do amor. Não sei deixar de gostar de ti. Cada segundo de mim é feito a pensar em ti, meu imperativo categórico é amar-te como quem respira.

Sou pequeno demais, demasiado humano até, para trazer comigo este colosso infinito, feito oceano de amor, que cultivo por ti como quem se esmera a cuidar seu jardim. Se me olhares nos olhos pegar-me-ás no coração e verás então que as montanhas da beleza começam no sorriso de um olhar apaixonado.

Espero por ti como uma criança inocente na paragem do autocarro. Os dias são muitos, os minutos são pressa, minha vida é só esta. Ainda que sozinho mas sem nunca deixar de te amar, vou até onde a rua me levar...

João Vasco