domingo, 27 de janeiro de 2008

O princípio do fim


Não caibo em mim, me vejo

Um refém de meu desejo.

Que tamanho tenho?

Sou mais que meu alcance,

A fronteira que me desenho

É eu olhar-me de relance

E ver a medida de mim.

Ou serei eu tão pequeno

E esta dúvida é já aceno

De que eu suspeito ser assim

Uma linha do horizonte,

Uma coisa sem tamanho,

Um rosto a ver-se defronte,

Um tempo sem bocanho.

Ser-se como se é, desse modo,

Pedaço maior de espaço,

Corpo em forma de abraço,

Um jeito a que me acomodo.

Sem se saber como se faz tal

Tudo tão gasto, tão banal.

As coisas são a acontecer

Pela força inelutável dos modos,

Por entre o viver e o morrer

A água afinada a bolear os godos.

E isto depois de dito, onde está?

Não se fez diferente em nada,

Uma dúvida destas começará

Assim que esteja acabada.


João Vasco

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008


Sei-me hoje como posso saber-me sendo como me sou. E que isto é? É uma história contada como feita de verdade. Uma entrada na casa escusa que até pode ser de mim. Um enigma, um vapor, um eco distante, uma sombra esguia, uma espera apertada por um sinal de destino que se concretize. Porque tanto se espera… As coisas feitas vazias como barcos encalhados nos momentos de espera desesperada de quem aguarda pelo sonho que se sonha no tempo sonhado.

Cada dia vê irromper a crueza da noite. Só queria ser pedaço de céu acariciado pelas estrelas num beijo cálido de luar. Mas debaixo das pedras há quanto silêncio! E os rios continuam a seguir para o mar…Ai, quem me dera ter mais que esperança desbocada! Ser grande dentro de mim, sentir o que sinto que possa sentir já a senti-lo, esvaziar-me de futuro, ser-me, já…

Nunca devia ter crescido, deixar-me menino, ter vistas curtas…

Pensar. Sempre se pensa, até quando se pensa em não pensar, pensa-se em não pensar. Se conseguisse parar, talvez voltasse a ser criança…Há coisas em mim que não sei como o são. Sou uma pergunta. Alguém me responde?


João Vasco