segunda-feira, 30 de julho de 2007

A certeza da desgraça

Eu não sou ninguém.

Sou o dia que não vem,

A pedra que é lançada ao mar,

A gota de chuva que cai no oceano,

A lágrima que se deixou de chorar,

O dia que não cabe no ano,

A brisa amena que se perde nos rostos,

A crispada maré de desgostos,

O momento passado e não vivido,

O facto consumado e tão esquecido.

Ainda me lembro de mim?


João Vasco

terça-feira, 17 de julho de 2007

O tempo …esse eterno desengano. Esse meio indefinido, que não pára, que não cessa. Mestre da ilusão como que estraga e depois repara. Estraga e repara, estraga e repara, … Às vezes só estraga. Noutras só repara. Ou até nem sequer isso.

Quando espero parece que avanço. Quando avanço vejo-me parado. Quero isentar-me do tempo. Volitar por entre os espaços da distância e encontrar o que não procuro mas que descubro. E assim entender que me sou, ao que vou, pelo que tenho. Nada de novo, tudo igual, tudo tão na mesma. Porque eu não sei ser mais. Nem menos. Apenas isto, tal como é. A crua banalidade. Estranho-a. Sinto-me importunado pela sua presença pertinaz. Eu, que sou comum. São os efeitos do tempo, esse feiticeiro de vontades…

João Vasco

Obrigatório


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Quid pro quo

Será que me podes amar?

Só um pouco sobre mim

Nada daquelas coisas sem fim

Que eu tenho por ti a perdurar.

Uma pequena exalação,

Um arrepio do coração.

Tão-somente isso te peço,

Nada que seja colossal.

Um pedaço, um arremesso,

Uma viagem adicional.


Será que me podes amar?

Um desejo aplainado

Sobre mim debruçado,

Um constante marulhar.

Só uma coisa latente

Que não seja evidente.

Apenas isso, uma morada,

Um caminho, uma estrada

Um quadro inacabado

Pelo pincel de meu fado.


Será que me podes amar?


João Vasco

Obrigatório

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Dou tudo o que posso e não é nada. Assim parece. O que me sai sincero do peito é um vento insípido que pouco faz. Não alcanço. Choro o sangue turvo que percorre todo o meu corpo em lágrimas de ansiedade. Sou a sombra anuviada de um vulto que não sou eu. Os passos que dou são em direcção a mim. De mim não me vou. Não sei se aguardo ou se avanço. Sou. Apenas. Somente daqui. E isto me faz desesperar. Estou contido pela ausência que é não ter. Não me resolvo, não me antecipo. A meus pés desenho um abismo em que rodopio volúvel como cata-vento. Tudo o que faço não se vê feito. Desaparece. Não consigo tocar. Por vezes roçago. Tão-só isso. Estou longe, longe demais …eu que tanto queria ser indelével.

João Vasco

Obrigatório