quarta-feira, 6 de abril de 2011

Casa na Colina - II

Foto de Rodrigo Guidotti

Moro aqui. Lugar este, uma casa nascida de me ser. Não me sei de outra forma, essa coisa confusa que é saber-me. E espero pela tua visita todos os dias. Não sei quando vens. Ou se vens. Deves vir, costumas vir. E quando vens, vens mesmo? Ou meu desejo faz-te vir, não vindo? De qualquer forma é bom vires. E por ti espero. Vindo ou não vindo acabas sempre por vir.

João Vasco

Casa na Colina - I

Foto de Aníbal Sequeira

Sei que estás aí desse lado, à espreita, como quem tem interesse menor que o medo. Qual vence? Quase sempre o medo. E em ti, há uma confusão enaltecida e não tens mão na tua fraqueza. A curiosidade é muita, mas o receio do vórtice é de perder o controlo e de apagar os pensamentos. E como quem anda perdido num lugar já visitado inúmeras vezes, tu dispersas-te e acabas por te enovelar na futilidade de dias que morrem muito cedo. Não vês o outro lado, o elo, a casa onde podias morar sem pavor. Tens os pés pesados e andar é-te difícil. Eu estou no topo da colina, à tua espera. Às vezes bates à porta, mas nem esperas que ta abra.

João Vasco