quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Henri Cartier-Bresson, New York 1947


Se houver espaço no tempo, procurar-me-ei, às cegas, em busca de nada, por nenhures. Tentearei o escuro à espera das cores que se sentem por antecipação. Todas as matizes invisíveis que se alcançam quando se larga a compreensão e se avança sem rédeas pelos trilhos do vazio. Se há algo mais que caminho a ser feito pelos passos, encontrá-lo-ei. A força da surpresa justifica o esforço desmiolado da procura. Porque nos prados da minha existência há espantalhos deslavados a lembrar-me de mim, e os rios que secaram sob pontes de outrora são como os moinhos isolados nas montanhas do ser, rudes figuras do tempo no teatro dos esqueletos.

Ver, rever…a presença isenta de tacto, a aleatoriedade dos instantâneos e a certeza das impressões abandonadas sem critério ou intenção. Que é isto que me interessa só porque não sei o seu lugar? Nem tão-pouco o substrato. É meu ciclo vicioso, a fadiga de me fazer confuso. Coisas simples, porque não? Ó somente coisas, tais como coisas, sem classificação, coisas que o são por o serem, nessa tão fiel exactidão. Coisas….Raios! Tenho cansaço deste cansaço.

Bonita distracção esquadrinhar-me! Hei-de dar de caras comigo. E quando me vir, será como nada. Ali, defronte de mim, o que me escapa por me ser o que tanto me é sem me ser mais do que isso, como se houvesse outro modo de ser. A distância entre duas encostas deixa aflorar um vale. E há tamanha robustez neste motivo…

Há diferenças que não se vencem. Escurece e sobrevém uma suave acalmia. O repouso é resposta para que as coisas deixem de existir. Eu desapareço sempre que fecho os olhos…


João Vasco