domingo, 11 de janeiro de 2009


Foto de SaMY

Num dia arrastado de que não tenho memória vi-me em circunstância de pensamento. Rasgado pela claustrofobia do tempo, tão de chofre, que nem permitiu espavento. Livre em ideia, confrontei-me com o peso de mim. Em pouco tempo fiquei exaurido. Não havia descanso na continuação perpétua do meu confronto interior. E onde jaziam as respostas?
Desde então, no interior de minha cabeça dói-me um zumbido. Uma janela se abriu e entrou a luz reveladora. Uma luz tão branca que, em vez de me permitir ver, cegou-me. Desordenado por ter tanto ao meu dispor e tão pouco para o poder enfrentar, este foi o dia em que me conheci.
Após a descoberta já não se regressa. O retrato é novo entre os muros. Aos poucos, o desgaste já não me acossava e comecei a vislumbrar, a custo, os contornos da realidade ruminada. Habituei-me.
Agora já sei olhar para trás e ver-me. Como espectador que avalia a sua representação na algazarra da vida. Em mim tudo era vidro quebrado, aqui vive-se nas águas do silêncio. Gastava-me a sentir o peso áspero da respiração, a sopesar a gravidade do pensamento. Nunca estava pronto para me abandonar, os meus pés eram os meus passos. Lá havia a sombra.
Agora já não dói.
João Vasco