sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Flébil Monotonia


O frémito da ausência me perfaz

E sinto o erro como adivinha.

O céu vestido de lusco-fusco lilás

A saudar a noite que se avizinha.

Que é isto de ser-me assim

Um tédio já gasto de mim…


As bocas caladas dos anjos

Que não soltam as vozes de arrepio

Nos constantes desarranjos,

Neste interlúdio em que expio

As minhas faltas constantes

De meus modos distantes.


O mar tarda em se encapelar

E até parece menos majestoso,

Está tão triste seu nobre marulhar

Como no leito da morte o idoso

A pensar nos tempos de outrora

Na nostalgia da última hora.


Ai quem me dera poder mudar

As cores de minhas cores revoltas,

As areias de meu pélago a pairar

E eu tonto sempre às voltas…

Mas retenho meus olhos sobre o mar

E só vejo as ondas a rebentar, a rebentar…


Que é isto de ser-me assim

Um tédio já gasto de mim?



João Vasco

Nenhum comentário: