O frémito da ausência me perfaz
E sinto o erro como adivinha.
O céu vestido de lusco-fusco lilás
A saudar a noite que se avizinha.
Que é isto de ser-me assim
Um tédio já gasto de mim…
As bocas caladas dos anjos
Que não soltam as vozes de arrepio
Nos constantes desarranjos,
Neste interlúdio em que expio
As minhas faltas constantes
De meus modos distantes.
O mar tarda em se encapelar
E até parece menos majestoso,
Está tão triste seu nobre marulhar
Como no leito da morte o idoso
A pensar nos tempos de outrora
Na nostalgia da última hora.
Ai quem me dera poder mudar
As cores de minhas cores revoltas,
As areias de meu pélago a pairar
E eu tonto sempre às voltas…
Mas retenho meus olhos sobre o mar
E só vejo as ondas a rebentar, a rebentar…
Que é isto de ser-me assim
Um tédio já gasto de mim?
João Vasco
Nenhum comentário:
Postar um comentário