Não esperes mais por mim
Já não saio daqui. Sou cobarde
E tenho-me assim absurdo. E é tarde
Pela sina do tempo, coisa ruim.
E como me vejo só mas esperado
Entardeço-me até que atrasado
De modo mais que perfeito
Me abandone à sombra que trago
Enclausurada em meu peito
Sob a forma de um afago.
Vai, vai-te sem demora
Que eu já não me vou. E depois
Corrobora que não tenho minha hora
Nos minutos de nós dois.
Como eu não querendo queria
Fazer o que então quereria
Por essa estrada perdida
Onde se espraia quem tem
Sua fé toda vencida,
Seu espaço tão além.
Agora que já te foste, segura,
Vive a vida como se ela fosse tua
Nessa farsa manifesta que perdura.
Eu sou o solitário na multidão da rua,
A presença tão ausente da vista,
Da obra o desconhecido artista.
Não, não voltes nunca mais
Que eu parei de me ser, de vez,
Numa queda abrupta de sinais
Desfiz-me da vasta agudez.
Oh, quão infrutífera minha fadiga!
Nada consigo apagar deste tormento,
Maldita úlcera qu´em mim se empertiga.
Gerada pela ferocidade do sentimento
É dardo acerado cravado em meu peito,
Suplício casado com laço imperfeito.
Sou um náufrago de lassa escuna
A aguardar por mim, pelo que sou
Não me existo, ando à tuna
Na noite que se me abeirou.
Adeus,
Despeço-me de mim, não de ti,
Porque me tenho cansaço
Se um dia voltares estarei aqui
Mas já serei de mim assaz escasso.
É-me indiferente se vais regressar
Aquele que te quer já se vê a expirar.
Se vieres ele já cá não estará
Será apenas lembrança do passado
E então nada mais te restará
Senão repousares a seu lado.
João Vasco
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