quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Ermo

Porque absorvo o demais do mundo

Desde a fímbria ao mais esconso fundo

Pela esponja ensopada de vida

Em meu peito, bem escondida.


E não pára, nem sequer abranda,

Crueza tamanha que por mim ciranda.

Adstrito me fico por assim ter de ficar

Já quase não caibo neste meu lugar.


Alguém me leve este peso imoderado

Tanto mais de tenso e apertado.

Não consigo por mais me segurar

Cedo a meu taciturno alquebrar.


Tentei despojar-me deste carrego

Num gesto assoberbado de aferro

Por um ilusório e soluçado pranto

Soltei a voz de meu triste canto.


Mas de tão poucas gotas vertidas

Ainda que todas somadas e expandidas

Seriam sempre um pequeno gotejar

Inócuo perante meu encapelado mar.


Alguém que queira tomar um pouco

Por demais suplicarei até que fique rouco.

Quando minha voz se for sem ter sido ouvida

Já estarei a morrer mais rápido que minha vida.


João Vasco

2 comentários:

Lia Pansy disse...

Aqui mesmo...
Gostei de o ler!
Voltarei...
Beijo

Lia

Lia Pansy disse...

Gostei do seu blogger!

Volto
Beijo Lia