sexta-feira, 24 de agosto de 2007

As mãos. Pela tangibilidade a consciência da leveza. Um arroubo de sensibilidade à espreita. Pelo toque se percebe a eternidade. Um leve arrepio emerge, clandestino, e dá uma leve noção de presença. Tudo se evade pela ausência de querer. Já não se quer, já se tem. Somente fruição, cumplicidade. O tempo fica esquecido por entre os espaços vazios de sentido. Na fímbria do esquecimento há a complacência do sabor da vida. Nestes pequenos sítios não há equívocos ou mentiras. Não há traições ou medos. Não há sonhos ou descrenças. Saboreia-se a harmonia do silêncio. Como se não houvesse amanhã e não tivesse havido ontem. Não há, simplesmente. Questiona-se a existência ao se perder parte da acepção de consciência. Numa imaterialidade dominante, emergente em um gesto de ironia, pela sua antítese, a tangibilidade, se arriba à pureza do sentir. Pena a sua tão funesta brevidade. Mas como se perde a noção de tempo, enquanto dura é como se se tivesse evolado a noção de fim, uma paragem nas regras da existência, um desvio melódico pelo infinito incompreendido. Engano feliz!


João Vasco

5 comentários:

RC disse...

"Saboreia-se a harmonia do silêncio"... Hummmm.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Toda a vida é um engano em que acreditamos para sermos felizes. Mas o que importa não é se o momento é breve, ou se o engano existiu, o que importa é a intensidade com que se viveu e o que sobrou depois de ter vivido.
Gostei muito. Voltarei.

tb disse...

Belíssimo... sensibilidade à flor da pele e dos dedos. :)
bjinho

Anônimo disse...

"Na fímbria do esquecimento há a complacência do sabor da vida."

Assim é, na verdade. O sabor da vida, o saber de tentar saber da vida, do saber do esquecimento que não se esquece de si mesmo ...

Caro João, somos vizinhos no Luso. Vim conhecer o espaço e fidelizei-me.

lamia disse...

É a insustentável leveza do Ser.