terça-feira, 28 de junho de 2011

Casa na Colina - IV

Foto de Thiago Sgarbi

Já lá vai algum tempo desde que te esqueceste. De ti, acima de tudo. Perdeste-te a fugir de ti como se te procurasses. O tempo que fica para trás é o latido dos cães perante as ambulâncias. Não é nada mais que uma luz, uma voz, um sinal que rasga abruptamente o silêncio. Hás-de lá voltar sem que te apercebas, porque em ti tudo é regresso. Mas acabas por continuar e consegues acreditar na novidade do que se repete exaustivamente. São as muralhas do teu castelo que eriges tal como uma criança pontapeia a bola que resvala para os seus pés. Quem se abandona a si mesmo fica junto de quem?

João Vasco

2 comentários:

Sofia disse...

Achei este texto fantástico, vemos tantas vezes de uma forma tão clara quando estamos por fora, somos tantas vezes agarrados e teimosos quando estamos por dentro... E eu sinto tão bem os dois lados... o primeiro voltou ao presente e o segundo no passado!
Eu revejo-me chegada de uma viagem sem Norte e nunca mais quero ter saudades de mim...

tb disse...

A verdadeira solidão é aquela em que nos esquecemos de nós...
Excelente texto, meu amigo!
beijinho