sexta-feira, 6 de maio de 2011

Casa na Colina - III

Foto de Soraia A. Guedes


Daqui vê-se beleza. Cá em cima é tão alto que sei que acabas por te perder na distância. O cansaço é inversamente proporcional à vontade. E antes que pudesses aqui chegar já te interessavas pelas distracções do caminho e podias nem chegar. Ou se chegasses logo te ias, perguntando-te porque havias subido. Há-de ser sempre assim enquanto não largares a teimosia. Faz tempo que começaste militância cega. Se pudesses ver-te com outra leveza no peito, sem a confusão ruidosa que te largaram insidiosamente na alma, se te esquecesses do frio com que te castigaram…Sei que não é fácil, mas também não to pediria se o fosse.
Nunca hei-de rivalizar com as aves mas é aqui que mora o vento. Naquele espaço grande e pequeno do tamanho de um céu e de um grão de areia, folha seca de Outono e ossos dolorosos de húmidos, glacial cor de pele e tórrido suor inexorável, em simplicidade de labirinto inextricável, sombra intáctil e tangível corpo, acre momento e doce instante, no canto ou na esquina de um pensamento como quem não tem um lar e sente-se em casa.
João Vasco

Um comentário:

Sofia disse...

Gosto muito da forma como falas de coisas especificas, fruto de as digerir, podendo então senti-las, explica-las d forma a servir a tantos outros contextos.... Vou voltando, gosto daqui!