domingo, 10 de julho de 2011

Casa na Colina - VII

Foto de: desconhecido

Porque tardas tanto como se já não viesses? Porque insistes em me fazer esperar, aqui, sozinho, como se te tivesses esquecido de mim? O tempo pesa, sabias. As folhas das árvores vejo-as cair, como que abandonadas, feitas inúteis, à mercê do vento, demasiadas vezes.

Aqui não vem ninguém e a janela é um fresco inacabado. Algures estás tu. Nenhures estou eu. Estamos? Eu estou, como não estando, a deslizar, despojado do resto e sobrecarregado de mim. Deixei-me ficar. Como não tendo outra hipótese, por inércia, por não ser capaz de fugir à servidão humana.

Há coincidências que nos salvam como memórias de alguém. Já chega de me esqueceres, não sejas ridícula. Fico eu sem jeito, sem propósito, a pairar.

Quando te olhei pela primeira vez fiquei sem saber de mim. Traz-me de volta. Sempre faz frio em uma casa vazia.

O que fazes? E o que não fazes? Há muito peso em teu peito. Não tens as mãos livres nem o sorriso liberto. Os teus olhos disseram-mo, por sussurro. E eu acreditei tanto que esqueci as voltas tuas dos lábios. E se sorrisses como se sorri em criança? Ainda te lembras?

João Vasco

Um comentário:

tb disse...

Quando nos esquecemos de ser criança o mundo escurece um pouco mais...
Belas interrogações e foto escolhida.