segunda-feira, 4 de julho de 2011

Casa na Colina - VI

Foto: Autor desconhecido

Fiz chá. Um daqueles que se bebem a entrecortar as conversas. Tu não chegas e ele arrefece. Como eu. E depois de arrefecido já nem é chá. Vou deitá-lo fora. Ou então bebo-o já. Mas e se chegas, entretanto? Ficamos sem chá para beber. Entre o agora e o depois, um abismo: o ofício de existir. E a conversa que também se atrasa, nada há que a faça vestir-se, uma demora em pensamento, um castigo como entretenimento.

Chove copiosamente lá fora. O ar denso e abafado faz-me lembrar que me esqueço que respiro, tão subtilmente, por necessidade.

Mas hoje está tudo mais difícil de agarrar, não sei se são coisas do céu se caprichos do peito.

O chá está frio. O sol espreita enquanto a chuva enfraquece, lentamente, até que pára.

A liberdade é uma palavra. Quando não tiver mais em que pensar, quando tudo tiver ido e não for mais que um livro em branco, aí estarei sozinho, sem espaço para improviso, no início e no fim, vazio, completamente livre. Onde assim? Como assim? Assim, só, assim só assim.

João Vasco

2 comentários:

tb disse...

Toma o chá e escreve as páginas em branco. Quem quiser vier que venha e aproveite os minutos. :)
um grande abraço!

Vera Lucia (a mão que afaga o gato) disse...

E tudo isso não sei se me cura ou me mata.

Faltam palavras!