Foto de Sidnei Recco
É hoje. Sim, hoje. É hoje que me
vou embora. Tem que ser hoje. Não vá perder ainda mais do que o que já me
fugiu. Um pedaço perdido de mim anda por aí. Não sei se pelos céus, por entre
as nuvens, se a flutuar inerte, em águas que não sei ou se entranhado em terras
húmidas. Ou talvez esteja escondido em qualquer lugar que me escapa, nos
arrabaldes da alma ou na cave da coração. Falta-me uma réstia, uma palavra
essencial do léxico, uma janela com vista para o mar.
Quanto mais tempo aqui permaneço
mais esta casa muda de tamanho. Umas vezes imensa, com a tristeza do eco,
outras minúscula, na asfixia da escuridão. E eu estou. Vou estando. Tenho
estado. Urge que deixe de estar. Estar não é morar porque eu não tenho morada.
Fiquei por falta de alternativa. É isso que nos faz a covardia da lassidão,
rouba-nos as opções até que, eventualmente, a pior delas seja a que prevaleça.
E agora que sou eu sem ti já exaurido de mim?
João Vasco
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