
Murcharam todas as plantas que havia
E meu jardim dói na corda do sangue quente
Que abranda sua força em tons de azia
No mármore gelado de alma indigente.
Já não chove há tempo que não conto
E alastra-se a areia pela minha cegueira
Como se um deserto se fizesse pronto
Feito segredo escondido na algibeira.
Há árvores a brotar que rasgam carne
Na pressa arrastada de se nascer,
Cada ornato selvagem que me guarne
É uma vida enfeitada de apodrecer.
Trago o frio como órgão interno,
A noite é a linfa por mim como o acaso,
Em meus pulmões respira-se Inverno
E neva, neva em meu monte Parnaso.
Se me olho ao espelho não vejo nada
Espectro que se faz naquele amaro sabor
De maré baixa no cais de alma varada
Pelas adagas glaciais do funesto amor.
João Vasco