
Não me roubem o amanhã. Nem tampouco o mudem. Que ele sempre esteja nesse sítio desgraçado onde só ele se dispõe sem sequer ser notado. Lá repousam meus olhos, aqui ficam minhas pernas. Onde sinto cansaço? Na roupa que me veste, nos sapatos que me levam.
Vou e venho. Por sorvos irregulares. E os dias não se fecham. Abarco o razoável de modo a que possa sentir-me afastado do absurdo. Vejo-me dotado de sensibilidade para parar no momento em que a paz pode ser posta em causa. Pensar isto é já ter abdicado dela. Haverá outro caminho que não este? Não, não há mais que sono numa cama feita de dormir. E quando me cheira a terra molhada sei que caibo na minha visão. E assim respiro como se não fosse obrigado a fazê-lo.