
A chuva que bate no vidro da janela
A dizer que não, que não é agora
Como se houvesse uma certa hora
Para se pintar uma aguarela…
Tamanha falta de imaginação,
Dispendioso pensamento
Que se faz céu e pegajoso chão
Mar e tempo de invento.
A chuva que bate no vidro da janela
Em gestos cinzentos a pau de carvão
Traça esquissos sabor a canela,
Memórias pela palma da mão.
E a melodia da cor da tristeza
Em pintura sonora de solidão
É lançada nas calhas da incerteza
Pingo após pingo, sem conclusão.
A chuva que bate no vidro da janela
A acenar como quem chega desperto
Ou como quem vai por apertada viela
Na senda de si mesmo, já tão perto,
Mas que não chega mais que o vento,
Um toque piano de quem não existe,
Um ardor cruzado de sentimento,
Uma distância inteira que persiste.
João Vasco