
Não caibo em mim, me vejo
Um refém de meu desejo.
Que tamanho tenho?
Sou mais que meu alcance,
A fronteira que me desenho
É eu olhar-me de relance
E ver a medida de mim.
Ou serei eu tão pequeno
E esta dúvida é já aceno
De que eu suspeito ser assim
Uma linha do horizonte,
Uma coisa sem tamanho,
Um rosto a ver-se defronte,
Um tempo sem bocanho.
Ser-se como se é, desse modo,
Pedaço maior de espaço,
Corpo em forma de abraço,
Um jeito a que me acomodo.
Sem se saber como se faz tal
Tudo tão gasto, tão banal.
As coisas são a acontecer
Pela força inelutável dos modos,
Por entre o viver e o morrer
A água afinada a bolear os godos.
E isto depois de dito, onde está?
Não se fez diferente em nada,
Uma dúvida destas começará
Assim que esteja acabada.
João Vasco