
Na sombra do tempo me escondo
Na esperança de encontrar a lua, tresmalhada,
Despida do céu, gravada na chama do teu olhar
Como menina sem sua mãe, perdida.
E ouço os murmúrios cavos da distância
A relembrar-me o medo da saudade
Pelos trilhos feitos na incerteza,
Na acção continuada de mim,
Torturado pelo cunho do esquecimento.
(Onde estás que já nem te vejo a vida
Onde me tens guardado a morrer?)
Aos meus pés, no lugar dos meus passos,
Um passado dito por cinzas amontoadas
À espera de uma brisa que as faça livres
Que as disperse invisíveis como a memória
Para que tudo seja como tem que ser.
(Onde estás que já não te procuro
Onde me deixaste longe de mim?)
Estou no limbo, na minha fronteira do amor
No lugar onde as palavras se emudecem
E em que os silêncios são vociferados.
Aguardo por um tempo certo de agir,
Por um clamor sibilado de sentimento,
Por uma paisagem imarcescível de ti,
Por um fado sonhado na rua.
(Onde estás que tanto te quero bem
Onde levas contigo a Primavera?)
Esta frágua na manhã do meu acordar
Não se perde pelos sabores da tarde,
Despe-se de sua copa adstringente
Como um carvalho pelo Outono,
No descerrar de cada viagem nocturna
Quando me perco pelo sono.
(Onde estás tu sozinha a chorar
Que já sinto minha boca dorida de sal?)
E é assim deste modo carregado
Que me vou vendo a respirar,
Um pouco longe de minha presença,
Suspenso pelas pausas da ilusão
Enquanto cai tua chuva em mim
Meu pedaço de céu, nuvem distante.
João Vasco